QUARTA-FEIRA, 20 DE FEVEREIRO DE 2019 - Horário 11:34
O esconderijo secreto dos executivos amantes da cozinha
Arte e Entretenimento / Numa tarde de terça feira, um homem chega a uma discreta casa no bairro do Campo Belo em São Paulo carregando uma caixa com 4 kg de magret de pato, 1 kg de foie gras, 4 garrafas de um Bordeaux St. Emilion e diversos outros ingredientes e condimentos. É o responsável pelo prato principal do encontro que ocorrerá logo mais. Ele chega e encontra uma mesa para 25 pessoas impecavelmente montada para receber os três pratos do cardápio da noite. Ainda são 17:00 e há tempo para organizar seus "mis en place" na cozinha aberta, conectada ao salão com a mesa de jantar.
Logo depois chegam dois outros homens cada um trazendo seu conjunto de ingredientes, o primeiro com tomates e uma melancia para um gaspacho refrescante e o segundo com maçãs e massa filo para criar as delicadas "apple roses". Abre-se um espumante, e cada um começa a trabalhar em suas receitas. Aos poucos, outros vão chegando e alguns se sentam na varanda para tomar um whisky aperitivo e fumar um charuto, enquanto outros se dispõe a ajudar os cozinheiros com tarefas específicas. Às 21:00 já estão todos na casa, e a conversa rola solta, quando ouve-se o chamado e o jantar é servido.
Todos sentam-se a mesa para degustar os pratos, cada um combinando com um vinho, tocar impressões sobre as receitas, e acima de tudo celebrar a amizade!
Trata-se de mais um jantar da Confraria Amigos de Babette.
Tudo começou em 1988 quando um grupo de executivos da publicidade e televisão, influenciados pelo recém lançado filme dinamarquês A Festa de Babette, cansados da dificuldade em encontrar ingredientes e importar vinhos no Brasil da época, montaram uma confraria para compartilhar dicas culinárias, receitas e harmonizar tudo com vinhos exclusivos descobertos pelos confrades. E há trinta anos um grupo de 12 a 20 confrades se reúne a cada duas terças feiras ao redor de uma boa mesa para conversar.
São todos cozinheiros amadores, advogados, médicos, engenheiros, empresários e publicitários que encaram o fogão. Mas também já passaram por lá empresários do ramo de gastronomia e entretenimento como Istvan Wessel e Fernando Alterio. A cada cinco anos, eles reproduzem o cardápio do filme que inspirou o nome do grupo. É de babar: sopa de tartaruga (de origem certificada), blinis com caviar e codornas em massa folhada recheadas com foie gras.
A gestão da Confraria é profissional, com estatuto, razão social, taxa de adesão, mensalidade e sede própria. E a tradição se mantém desde 1989! Para fazer parte da confraria, um candidato tem de comparecer a três reuniões para, numa quarta, ser votado pelos demais confrades. E há quem recebeu bola preta e não foi aceito. "Na verdade, não buscamos quem saiba cozinhar muito bem." Explica um confrade com quase dez anos de confraria, "E sim quem tem interesse na gastronomia e se dá bem conosco. A verdade é que cozinhar qualquer um aprende. Mas ser uma pessoa legal, não."
Apesar das regras claras em não se discutir política, futebol e religião assim como não usar o clube como instrumento para promoção própria, a amizade entre os confrades se estende para além da mesa e dos bons pratos. Há vários casos de confrades que fazem negócios entre si ou que se ajudam mutuamente. Há médicos e dentistas no grupo que acabam atendendo outros confrades como pacientes (as vezes até durante as reuniões), e parcerias e sociedades já foram seladas entre confrades.
Em 2018, com a morte de dois confrades ilustres, a confraria ficou com 10 sócios o que é, na opinião de alguns, um número baixo. "Estamos pensando em aumentar a quantidade de sócios, porém não é qualquer um que se encaixa no perfil que buscamos" diz seu atual presidente. "Normalmente as pessoas acabam sendo indicadas para se candidatar a confrade por outros confrades, mas achamos que assim estamos deixando de fora várias pessoas interessantes que ainda não conhecemos." Pode ser. Com a recente onda de interesse em culinária, com programas populares como Master Chef ou aqueles em que homens são protagonistas no campo das receitas, como em Tempero em Família do Rodrigo Hilbert, o público masculino tem demonstrado interesse crescente em perseguir um hobby na cozinha.
A confraria passa agora por um período de renascimento, e sua comunicação nas redes sociais, que andava em segundo plano, está mais ativa do que nunca. Se quiser ter um gostinho do que acontece por lá dê uma espiada na conta de Babette do Facebook ou no Instagram.
Deu vontade de se candidatar? O melhor caminho é entrar em contato com um confrade, ou se não tem nenhum conhecido (já checou na sua rede social?) pode se aventurar diretamente pelo e-mail amigosdebabette@outlook.com.br e quem sabe não ganha um convite para a próxima reunião?
Website: https://www.facebook.com/AmigosdeBabette/