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SEGUNDA-FEIRA, 4 DE AGOSTO DE 2025 - Horário 17:34

Uso de corticoide pode causar glaucoma, alerta médico
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Mais de 1,7 milhão de pessoas convivem com o glaucoma no Brasil, segundo estimativa do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Por se tratar de uma condição silenciosa, que pode evoluir sem sintomas até estágios avançados, muitos casos seguem sem diagnóstico. Entre as diferentes formas da doença, uma merece atenção especial: o glaucoma induzido por corticoide, ou corticogênico, associado ao uso de medicamentos anti-inflamatórios à base de corticosteroides.

De acordo com o oftalmologista Dr. Solon Vasconcelos Bastos, do Hospital de Referência Oftalmológica (HRO), integrante da rede Vision One, esse tipo de glaucoma é classificado como secundário. “Caracteriza-se por lesão no nervo óptico provocada pelo aumento da pressão intraocular (PIO) associada ao uso de corticosteroides, independentemente da via de administração”, explica.

Segundo o médico, a alteração ocorre por mudanças no trabeculado, estrutura responsável pela drenagem do líquido do olho, com acúmulo de material extracelular e comprometimento das células responsáveis pela filtragem do fluido ocular. Como resultado, a pressão se eleva e pode comprometer estruturas importantes da visão.

Embora a principal diferença esteja na presença de um fator causador identificável – neste caso, o uso de corticoides –, nem sempre o quadro é reversível. “Em casos de uso prolongado ou em pacientes predispostos, o dano ao nervo óptico pode ser irreversível, com curso clínico e necessidade terapêutica semelhantes ao GPAA [glaucoma primário de ângulo aberto]”, afirma o médico.

Risco varia entre indivíduos e exige acompanhamento

A probabilidade de desenvolver glaucoma cortisônico é maior com o uso de colírios potentes à base de dexametasona e prednisolona, em razão da alta absorção intraocular. No entanto, outras formas de uso também apresentam risco. “A sistêmica (oral e injetável), intranasal, cutânea e inalatória também podem provocar elevação da pressão intraocular, especialmente em pessoas com predisposição genética ou histórico de aumento da pressão ocular causado por corticoide – os chamados corticossensíveis”, afirma o oftalmologista. O risco aumenta ainda mais nos casos de injeções intraoculares ou uso prolongado.

Segundo o Dr. Solon, a resposta à corticoterapia é altamente individual. Embora a elevação da pressão intraocular seja mais frequente entre a segunda e a quarta semana de uso contínuo, a alteração na pressão pode surgir em menos tempo. “Para os pacientes corticossensíveis, a hipertensão pode surgir em poucos dias. Por essa razão, a orientação clínica é realizar controle oftalmológico com tonometria [exame que mede a pressão intraocular] já nas primeiras duas a quatro semanas de uso dos corticóides”, pontua.

Ele explica que, cerca de um terço da população pode reagir ao corticoide em diferentes intensidades. Entre os grupos mais vulneráveis estão:

  • Pacientes com histórico pessoal ou familiar de glaucoma;
  • Pessoas com grau elevado de miopia;
  • Diabéticos;
  • Crianças com doenças inflamatórias oculares crônicas;
  • Portadores de uveítes crônicas [inflamações dentro do olho] e;
  • Indivíduos com resposta hipertensiva já conhecida.

“Além disso, há evidências de que mutações ou variações genéticas específicas podem estar associadas à sensibilidade aumentada à corticoterapia ocular”, complementa.

Quando o uso de corticoides é contínuo

Em determinadas condições clínicas, como rinite alérgica, asma e lúpus, o uso de corticoides é constante e nem sempre pode ser interrompido. Nesses casos, o acompanhamento deve ser mais rigoroso. “A melhor estratégia envolve minimizar a dose e o tempo de uso do corticoide sempre que possível; preferir medicamentos com menor absorção ocular [que apresentam menos risco de aumentar a pressão intraocular]; avaliar alternativas terapêuticas não esteroidais quando viáveis; instituir acompanhamento oftalmológico regular, com avaliação da PIO e do nervo óptico e; educar o paciente e a equipe médica sobre os sinais precoces de hipertensão ocular”, explica Dr. Solon.

O médico reforça que a avaliação oftalmológica também deve considerar diferentes fatores, como a via de administração, a potência do corticoide, o tempo de uso e o histórico do paciente. “A primeira avaliação deve ocorrer após 2 semanas de uso do corticóide. Nos casos de uso crônico, o acompanhamento deve ocorrer a cada três ou seis meses, conforme o grau de risco individual. Já pacientes com elevação da PIO devem ser acompanhados com frequência aumentada, podendo exigir tratamento hipotensor específico [medicações que reduzem a pressão ocular]”, conclui.

A detecção precoce continua sendo uma das principais aliadas no controle do glaucoma, inclusive nas formas secundárias, como a cortisônica. Dados da Agência Brasil mostram que, entre 2022 e 2023, cerca de 300 mil brasileiros evitaram a cegueira ao realizar o monitoramento correto da condição. Iniciativas que promovem o acesso ao diagnóstico, como o programa Visão Saúde e ações de educação médica integrada podem ajudar a conter o avanço silencioso da doença.



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