Negócios / O sistema de saúde brasileiro enfrenta uma contradição estrutural. Enquanto o custo do cuidado cresce acima da inflação há mais de uma década, a remuneração médica continua ancorada em um modelo que privilegia quantidade, mas não o resultado.
O Fee for Service, formato que paga o profissional por procedimento realizado, criado para estimular produtividade, tornou-se um dos principais fatores de ineficiência do setor. Segundo levantamento do portal Research Center, divulgado pela revista Estratégia MED, 74,5% dos médicos consideram que não recebem uma remuneração compatível com o seu trabalho e acreditam que deveriam receber cerca de 44,6% a mais, refletindo um sistema que favorece o excesso de atendimentos e o enfraquecimento da relação médico-paciente.
“O sistema brasileiro remunera o ato, não o desfecho. Isso gera distorções econômicas e éticas: o médico precisa produzir para sobreviver, não necessariamente para gerar valor”, afirma o médico, gestor e empresário Alexandre Pimenta, com mais de 16 anos de experiência em gestão de clínicas e hospitais em todo o país.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a saúde consome cerca de 9,7% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e parte significativa desses recursos se perde em retrabalho, exames repetidos e reinternações. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que até 20% dos gastos globais em saúde sejam desperdiçados com práticas decorrentes de modelos de pagamento baseados em volume.
Para Pimenta, o formato atual cria uma corrida de produção que mina a qualidade assistencial e desgasta os profissionais. “Quando a sobrevivência depende da quantidade, o médico perde tempo, vínculo e propósito. É um modelo que consome o profissional e o sistema por dentro”, avalia.
Administração solidária: um novo pacto de gestão
Em seu livro A Caixa Preta da Clínica Médica: A importância do atendimento médico humanizado, Alexandre apresenta o conceito de Administração Solidária, modelo de gestão médica desenvolvido em Minas Gerais e aplicado em projetos do Grupo Cartão de TODOS, considerado um dos maiores grupos de benefícios populares em saúde da América Latina.
A proposta substitui a lógica individualista do Fee for service por uma gestão cooperativa, na qual o corpo clínico compartilha decisões, indicadores e resultados, reduzindo desperdícios e fortalecendo o senso de pertencimento. “A Administração Solidária parte da ideia de que ninguém se sustenta sozinho dentro de um sistema de saúde. Quando o médico entende que resultado financeiro e qualidade clínica são interdependentes, o sistema inteiro ganha”, explica o autor.
Com mais de 16 anos em gestão hospitalar e liderança de equipes médicas, Pimenta defende que o futuro da saúde depende de profissionais preparados para administrar, não apenas atender. A transição para um modelo de pagamento baseado em valor exige novos parâmetros de avaliação, governança clínica e visão empreendedora.
“A eficiência não é o oposto da humanização, é sua consequência. O médico que aprende a gerir melhor o resultado reduz custos e recupera o sentido da profissão”, afirma.
Pimenta é diretor médico nacional da AmorSaúde Brasil, liderando mais de 10 mil médicos da rede de clínicas que integra o Grupo Cartão de TODOS, com 509 unidades no Brasil e na América Latina. Também atua como CEO do Gastrocentro Minas Gerais, onde coordena uma equipe multidisciplinar que realizou mais de 1 milhão de procedimentos nos últimos dez anos.
O livro que abre a “caixa-preta” da prática médica
A Caixa Preta da Clínica Médica: A importância do atendimento médico humanizado chega ao mercado como um estudo técnico e detalhado sobre os desafios da gestão médica contemporânea. A obra combina análise de dados, experiências reais e propostas de transformação para o modelo de remuneração, cultura de gestão e papel do médico no ecossistema de saúde.
O lançamento será no dia 6 de novembro de 2025, às 18h, na Livraria Leitura do Diamond Mall, em Belo Horizonte (MG).

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