RELEASES EMPRESARIAIS

QUARTA-FEIRA, 26 DE JUNHO DE 2019 - Horário 14:15

O mercado de ações, Trump ou o mercantilismo 3.0
Negócio / Até o final de abril, os mercados de ações mantiveram o seu número de equilibrismo entre atividade econômica convalescente e apoio monetário indeciso. A partir do mês de maio, o impacto de uma postura mais dura da Administração de Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, nas negociações comerciais com a China relembrou os investidores da fragilidade deste equilíbrio.

Assim, após alguns altos e baixos, os mercados de ações baixaram agora para níveis próximos dos verificados no final de março. Em contrapartida, os mercados obrigacionistas continuam a enviar a mensagem inequívoca de um crescimento global mal orientado e deflacionista.

A questão que se coloca para já aos mercados é a de avaliar se a possibilidade de uma nova aceleração do crescimento global - impulsionada pelo plano de relançamento chinês, pelos efeitos de base favoráveis após a turbulência de 2018, pelas políticas monetárias globalmente acomodatícias e pela resiliência da atividade americana - prevalece sobre o abrandamento da economia americana, vítima tardia da orientação monetária excessivamente restritiva de 2018 e do envelhecimento natural de um ciclo econômico já muito longo, com os efeitos bumerangue de uma política comercial claramente mercantilista que age impedindo qualquer recuperação da atividade global.

Pela primeira vez em trinta anos, a geopolítica poderá afetar profundamente o comércio mundial

Atualmente, a nossa avaliação permanece inalterada: a manutenção do equilíbrio entre estas duas forças é frágil e o potencial de uma eventual evolução é consideravelmente prejudicada pelas restrições estruturais (sobre-endividamento, restrições das políticas monetárias) e conjunturais (tensões comerciais) que se opõem ao mesmo. Em longo prazo, a questão que não pode ser ignorada diz respeito ao alcance global da rivalidade crescente entre a China e os Estados Unidos. Pela primeira vez em trinta anos, a geopolítica poderá de novo afetar profundamente o comércio mundial.

Estados Unidos versus China: haverá lugar para duas potências mercantilistas?

Parece que os mercados demoraram a reconhecer que as tensões recentes entre os Estados Unidos e a China, mais do que um conflito comercial, refletem uma rivalidade estratégica. Todavia, a obra "Death by China", de Peter Navarro - consultor de Donald Trump do qual muito se ouviu falar -, data de 2011 e reflete sem ambiguidade o famoso "complexo de Tucídides" sentido atualmente pelos Estados Unidos em relação à China (por analogia à rivalidade vivida por Esparta, na Grécia Antiga, relativamente ao imperialismo crescente de Atenas que resultou na guerra do Peloponeso).

De forma menos marcial, as tensões sino-americanas também podem ser interpretadas como uma rivalidade incompreensível entre duas potências mercantilistas (consultar nossa nota de abril de 2017, "Os investidores em longo prazo deverão precaver-se contra o populismo"). Os Estados Unidos de Donald Trump não acreditam nas virtudes do comércio livre, considerando-se "vítimas" e preferindo, tal como na Inglaterra, Holanda ou na França de Colbert do século XVII, explorar a sua primazia numa relação de forças que lhe é favorável relativamente a seus parceiros comerciais para enriquecer o país por meio da produção de excedentes comerciais e do apoio ao investimento industrial interno. Esta política comercial entra naturalmente em confronto direto com a da China, sendo esta justificadamente acusada de um comportamento igualmente mercantilista. Como é lógico, esta política estenderá mais cedo ou mais tarde às nações cujo saldo positivo da balança comercial com os Estados Unidos for contra as ambições mercantilistas da Administração Trump, começando pela Alemanha e pelo Japão.

Tornou-se evidente que a intensificação das tensões comerciais entre os Estados Unidos e seus parceiros comerciais é inerente ao modelo econômico escolhido pela Administração de Trump, sendo acrescida, no caso da China, de uma rivalidade geoestratégica. A intensidade da última é ilustrada pelo ataque violento perpetrado contra a Huawei, empresa de importância crucial para a China, por parte de um governo norte-americano, que não hesita em utilizar o poder exorbitante de extraterritorialidade das suas injunções de boicote para tentar isolar fatalmente o grupo chinês.

O problema para nós, investidores, é que o questionamento deste modelo de "globalização feliz" das últimas décadas acaba aumentando as incertezas de curto prazo, ainda mais com a ameaça permanente de uma perturbação das cadeias logísticas globais ao nível das margens das empresas, com o aumento dos custos para os consumidores e de um abrandamento do comércio mundial. Pelo menos neste contexto, é difícil esperar obter uma revalorização significativa dos mercados de ações face aos níveis atuais sem um novo deus ex machina na cena monetária.

Divisas
No mercado cambial, a redução continuada do balanço da Fed até ao mês de setembro, o diferencial das taxas de juro favoráveis para os Estados Unidos e as incertezas políticas na Europa, principalmente em torno do Brexit e das eleições europeias, continuam a sustentar a tendência do dólar norte-americano. No entanto, apesar da fase de aversão ao risco, o dólar norte-americano praticamente não beneficiou como moeda de refúgio. Com efeito, o mercado tende a antecipar uma flexibilização da política da Reserva Federal norte-americana a fim de contrariar os primeiros sinais de abrandamento do crescimento associados à acentuação do déficit comercial e orçamental americano.

Assim, na ausência de uma forte visão direcional no domínio das principais moedas, mantemos um risco cambial limitado, conservando uma sobre ponderação no euro e uma exposição limitada ao dólar e ao iene. O comportamento das divisas emergentes permanece parcialmente dependente do comportamento do dólar, mas algumas destas moedas oferecem determinadas oportunidades muito seletivas, em particular na Índia.


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