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QUINTA-FEIRA, 1 DE AGOSTO DE 2019 - Horário 15:47

Como as cidades se preparam para enfrentar as mudanças climáticas
Arquitetura / O verão de 2003 foi um marco na avaliação dos riscos e consequências das mudanças climáticas. Durante julho e agosto daquele ano, muitas cidades europeias sofreram com a maior onda de calor no continente desde 1540. Paris foi a metrópole mais afetada e, em toda França, cerca de 15 mil pessoas morreram; Itália, Portugal, Holanda, Alemanha e Reino Unido também registraram milhares de óbitos decorrentes das temperaturas extremas.

As ondas de calor são fenômenos climáticos que sempre existiram. O problema é que o aquecimento global está fazendo com que elas sejam mais frequentes e mais intensas. E, pior, a urbanização potencializa seus impactos: as grandes cidades tendem a ser mais quentes e apresentam menor capacidade de escoamento de grande volume de água quando chove muito em pouco tempo.

Superfícies impermeabilizadas (muito asfalto e concreto), fator antropogênico (alto fluxo de carros e pessoas), deficiência hídrica (baixa presença de água natural e de plantas) e geometria urbana com edifícios muito próximos (fator visão de céu: quanto menos eu vejo o céu, mais calor faz) são os principais agentes da formação das ilhas de calor em aglomerações urbanas.

Ou seja, para administrar ou até para reverter os impactos das mudanças climáticas, as grandes cidades precisam repensar sua organização. Hoje, os investimentos estão voltados para duas estratégias: a mitigação das consequências nocivas do aquecimento global e a adaptação da infraestrutura a essas mudanças.

MITIGAÇÃO: REDUZIR EMISSÕES JÁ NÃO É MAIS SUFICIENTE

Em 2012, o professor de planejamento urbano da Georgia Institute of Technology (EUA) Brian Stone Jr. já afirmou, em seu livro "The City and the Coming Climate: Climate Change in the Places We Live", que a redução na emissão dos gases de efeito estufa não seria suficiente para desacelerar o rápido avanço do aquecimento nas grandes cidades.

A tese majoritária à época era de que as mudanças climáticas ainda poderiam ser mitigadas com sucesso antes que seus efeitos se tornassem irreversíveis. No entanto, o relatório especial Global Warming of 1.5 ºC, uma pesquisa do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), indica um caminho sem volta. O planeta já está 1,1 grau Celsius mais quente e, de acordo com o Acordo de Paris, devemos limitar esse aquecimento a 1,5ºC e não permitir que ele chegue a 2ºC de forma alguma. "Estamos longe desse ideal e devemos passar dos 3ºC até o fim do século", diz Andrea Santos, secretária executiva do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC).

Andrea explica que as mudanças no clima que vemos hoje são resultado de emissões anteriores. O crescimento histórico de emissões desde a Revolução Industrial (no início do século 18) começou a lançar gases nocivos na atmosfera, local onde eles permanecem por mais de 100 anos. "Ou seja, [as consequências] dos gases de hoje serão [sentidas] até o fim do século. E nossa curva de emissão está aumentando, mesmo com a transição para uma economia de baixo carbono", explica "Não será suficiente no curto prazo".

"A mitigação foca em reduzir a causa, que são os gases de efeito estufa. Politicamente, algumas ações já estão mais presentes em leis urbanas: valorização do transporte público, investimento em combustíveis limpos, troca de mobilidade a motor por ativa (bicicletas, por exemplo)", afirma Denise Duarte, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (Fau/USP), especialista em mudanças climáticas. "Ainda assim, é preciso investir em adaptação e tornar as cidades mais resilientes para enfrentar os problemas que já estão aí", afirma.

"A pauta da adaptação demorou para entrar na agenda porque a comunidade científica não queria aceitar que não chegaríamos ao objetivo", diz Andrea Santos. "Foi o mesmo que admitir o fracasso do planeta".

ADAPTAÇÃO: AÇÕES PARA RESOLVER O PROBLEMA AGORA

Hoje, as nações que compõem a União Europeia estão entre as mais comprometidas em dar respostas eficientes ao aquecimento global. Ainda assim, a maioria delas falha em oferecer soluções do ponto de vista das adaptações urbanas: 66% das cidades da UE têm um plano de mitigação, mas apenas 26% têm planos de adaptação - menos ainda, 17%, apresenta ações conjuntas.

"Já está claro que a mitigação sozinha não dá conta e que precisamos de ações de adaptação. O IPCC 5 [Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas] mostra que mesmo 0,5°C já faz muita diferença nas cidades", afirma Denise. As crises mais comuns que as metrópoles já enfrentam são, além do agravamento das ondas de calor, chuvas fortes com inundações ou deslizamentos e estresse hídrico com falta de água.

A incidência de tragédias relacionadas aos fenômenos climáticos já é alta - todo verão, o Rio de Janeiro sofre com deslizamentos e São Paulo com inundações, por exemplo. E a tendência é de que esses desastres ocorram com cada vez mais frequência. Não só porque o aquecimento global vem aumentando significativamente, mas também porque os sistemas de infraestrutura urbana estão defasados.

Planejadores urbanos apontam o risco de que mesmo as adaptações sejam insuficientes - um tipo de "projeto para o passado". O que isso significa: novas construções, como sistema de escoamento mais rápido ou de aquecimento e refrigeração mais eficiente, são projetadas a partir dos dados climáticos do passado, mas a realidade atual é outra. A instabilidade climática dos próximos anos pode tornar até as construções mais modernas em tecnologias ultrapassadas, como uma nuvem que passa pelo céu.

A infraestrutura do futuro deve ser desenhada, portanto, com as projeções do futuro - e o IPCC recomenda que sejam levadas em conta as estimativas mais pessimistas. "Antes de qualquer coisa, precisamos ter uma boa elaboração de avaliação dos impactos", orienta Andrea.

"Aí, sim, pensamos em outras questões importantes, como as construções sustentáveis. No Brasil, por exemplo, usamos muito concreto e aço, tecnologias carbono intensivas, e não aproveitamos nossas oportunidades climáticas, como a aplicação de biomateriais na construção civil", sugere.

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