Negócio / De 2016 a 2019, o Brasil perdeu mais de 300 mil empresas. É o quarto ano consecutivo em que o país fecha mais empresas do que abre, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse cenário demonstra indícios de que a economia brasileira ainda não se recuperou da recessão iniciada em 2014.
O desafio de manter uma empresa aberta e garantir sua longevidade é uma realidade brasileira, seja pela alta carga tributária, por períodos de recessão ou outros desafios comuns a todo empresário. Um desses desafios que assola o proprietário de uma empresa — principalmente das micro, pequenas e médias empresas formais, ou daquelas que estão em fase de introdução ou crescimento no mercado — é a má gestão e a falta de planejamento.
Se a empresa é familiar, há desafios adicionais. No Brasil, as empresas administradas por famílias são muito fortes e representam 90% desse mercado. Além disso, 50% das maiores empresas brasileiras são familiares.
Essas companhias estão espalhadas por diversos segmentos do mercado: desde agropecuária até a indústria da construção civil. Contribuem com cerca de 65% do PIB nacional e empregam 75% da força de trabalho.
Mesmo com essa relevância para a economia do país, uma pesquisa do IBGE registrou que apenas 30% dessas empresas sobrevivem à segunda geração, ou seja, após a administração da empresa passar do pai para o filho, as chances de a empresa fechar as portas são grandes. E o cenário piora de geração em geração: apenas 5% dessas empresas sobrevivem até a terceira geração de sucessores.
Por que tantas empresas familiares fecham as portas?
Existem vários motivos que podem minar a longevidade de uma empresa familiar. Na maioria dos casos, o problema é falta de organização, não saber administrar conflitos e não deixar claro qual a responsabilidade e função de cada familiar na empresa. Esses fatores se tornam ainda mais evidentes quando há a necessidade de fazer a sucessão administrativa da empresa.
Em geral, a sucessão da empresa ocorre com a passagem da administração de pai para algum de seus filhos. Sem um planejamento sucessório adequado, é difícil que a sucessão ocorra sem prejuízos, muitas vezes irreversíveis, para os negócios e até para a família. Esse cenário explica a alta taxa de mortalidade das empresas familiares após a primeira geração administrativa.
Iris Gabriela Spadoni, advogada do Escritório Spadoni e Carvalho Advogados Associados, presta assessoria jurídica na área de Direito Contratual e Societário. Em sua experiência, um dos fatores determinantes que prejudicam a sucessão familiar é não programar e organizar quem assumirá o papel do fundador. "Muitas vezes o fundador não deixa os herdeiros preparados para sucedê-lo na administração", explica Iris Gabriela Spadoni. "Por isso, o planejamento sucessório é tão importante."
Existem casos em que o fundador decide ou é aconselhado a se aposentar e passar o bastão para o herdeiro. Um caso conhecido é o da Arezzo & Co, marca nacional de calçados. Ela foi fundada, na garagem do avô de Alexandre Birman, atual CEO da marca. Seu pai criou a empresa em 1972 e, em 2013, Alexandre assumiu o comando da companhia.
Contudo, casos de sucesso como o da Arezzo são raros. E o mais comum é a passagem do bastão apenas quando há a morte do fundador, o que agrava ainda mais a falta de planejamento sucessório.
Como planejar a sucessão pode manter a boa saúde das empresas?
Quando a empresa chega no momento da sucessão, um dos desafios fundamentais para manter a saúde dos negócios é garantir que o herdeiro esteja apto a dar continuidade a tudo que o fundador conquistou. Em geral, a figura do fundador é muito forte, principalmente em empresas menores.
Por ser o criador e acompanhá-la ao longo de toda sua história, ele representa a missão e os objetivos da empresa, personifica sua cultura organizacional e sua imagem perante os colaboradores e o mercado. A advogada Iris Gabriela Spadoni ainda aponta o fato de que, muitas vezes, os colaboradores da empresa veem o herdeiro como filho do dono. "É necessário que eles o vejam como gestor da empresa e o herdeiro deve estar preparado para desempenhar esse papel."
Quando o empresário busca o planejamento sucessório, todos esses fatores são abordados no plano. Avalia-se a capacidade de gestão dos herdeiros, o domínio que ele tem do dia a dia de uma atividade empresarial e até mesmo sua vontade em gerir essa empresa.
Além disso, o planejamento envolve a gestão do patrimônio empresarial e familiar, possibilitando a elaboração do projeto específico que, em alguns casos, pode até gerar uma economia tributária ante o planejamento feito com antecedência e de forma organizada. Também há várias outras vantagens financeiras como a redução de despesas com honorários advocatícios, processos de inventário e transmissão de bens etc.
A quem recorrer para fazer um bom planejamento sucessório?
Em termos simples: não há receita de bolo para ter uma sucessão empresarial de sucesso. Por isso, há escritórios especializados em realizar esse planejamento de forma estruturada. Cada família tem uma peculiaridade e há diversos fatores que podem tornar a sucessão mais complexa.
A entrada de muitos herdeiros na sociedade é um exemplo. "Sem um planejamento sucessório, o falecimento do fundador pode levar à abertura de um inventário e a entrada de mais herdeiros na sociedade", explica Gabriela Spadoni. Ou seja, em um inventário pode entrar cônjuge, filhos de outros casamentos e parentes distantes, o que, via de regra, acaba levando a vários conflitos de interesse.
Uma boa assessoria jurídica aumenta, em muito, as chances de a empresa familiar se estruturar em torno da sucessão, resultando, ainda, em outras vantagens para os negócios. Por meio do planejamento sucessório, o empresário pode acabar percebendo que faltava clareza do papel dos familiares na empresa, uma melhor organização societária e a separação do que é patrimônio da empresa do que é patrimônio familiar. Ou seja, pode ser que além de reduzir as chances de fechar as portas após a sucessão do fundador, a empresa também acabe melhorando sua saúde administrativa atual.
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