RELEASES EMPRESARIAIS

SEGUNDA-FEIRA, 23 DE NOVEMBRO DE 2020 - Horário 15:11

Os desafios da implantação da rede elétrica subterrânea no Brasil
Educação /

Comunidades em todo o mundo dependem da transmissa~o de energia para impulsionar sua economia e fornecer a confiabilidade necessa´ria para manter os residentes seguros. Projetos de transmissa~o ele´trica podem ser executados em cima, subterra^neo ou submarino, o que for necessa´rio para atender a demanda.

O projeto da linha de transmissa~o subterra^nea, tambe´m conhecida como underground, e´ um servic¸o altamente especializado usado para atender aos desafios u´nicos de localizac¸a~o e capacidade. As linhas de transmissa~o subterra^neas sa~o frequentemente usadas quando mais capacidade de transmissa~o e´ necessa´ria em ambientes desafiadores, como densas a´reas urbanas. Ao trazer energia de transmissa~o adicional para a´reas altamente desenvolvidas, normalmente na~o ha´ espac¸o fi´sico suficiente para uma linha ae´rea.

Existem tambe´m restric¸o~es de permissa~o que tendem a favorecer uma abordagem clandestina. Por exemplo, se uma linha de transmissa~o precisa passar por um santua´rio avia´rio, uma linha de transmissa~o subterra^nea pode minimizar o impacto nas aves migrato´rias. Tambe´m ha´ benefi´cios de resilie^ncia em considerar uma linha de transmissa~o subterra^nea. Embora frequentemente seja uma opc¸a~o mais cara, pode ser a soluc¸a~o para endurecer a grade contra tempestades.

Os obsta´culos de uma caminhada rumo ao futuro

Nas u´ltimas duas de´cadas, as comisso~es de servic¸os pu´blicos na Virgi´nia, Carolina do Norte, Oklahoma, Texas e no Distrito de Columbia, nos Estados Unidos, examinaram a possibilidade de escavac¸a~o, mas todos conclui´ram que a transformac¸a~o pode se provar proibitivamente cara. Portanto, a maioria das concessiona´rias de eletricidade na~o te^m pressionado por extensas ac¸o~es subterra^neas, temendo uma reac¸a~o dos clientes que desejam manter suas contas de energia baixas.

Considerando que uma infraestrutura de distribuic¸a~o pode durar mais de 50 anos, a economia de evitar o corte de a´rvores e manter as folgas, na~o enviar equipes para responder a interrupc¸o~es e na~o causar quaisquer perdas econo^micas com linhas de transmissa~o interrompidas deve ser somada. Na verdade, ha´ evide^ncias de que os consumidores esta~o dispostos a pagar mais em suas contas de energia pelo subterra^neo, de acordo com uma pesquisa da EEI – Energy and Efficiency Institute, realizada com os consumidores americanos. Para as concessiona´rias que na~o atualizaram suas poli´ticas de subterra^neo por medo de aumentar a conta mensal de energia ele´trica, e´ o momento de reexaminar as a´reas onde o subterra^neo de linhas de energia e´ apropriado e necessa´rio.

A protec¸a~o da infraestrutura de energia e´ ta~o cri´tica que o financiamento do subsolo na~o deve depender inteiramente dos clientes da concessiona´ria que arcam com os custos. O governo tambe´m deve desempenhar um papel, investindo em uma infraestrutura mais esta´vel e segura para ajudar a garantir que a energia permanec¸a ligada durante eventos clima´ticos extremos, de forma que o deslocamento econo^mico de interrupc¸o~es prolongadas de energia possa ser evitado. Deixando de lado o investimento direto, as comisso~es de planejamento locais e as age^ncias de aplicac¸a~o do co´digo devem explorar servic¸os subterra^neos e secunda´rios como parte de novas construc¸o~es ou quando novas licenc¸as sa~o emitidas. Fazer isso em a´reas de alto risco de ince^ndio ou regio~es com a´rvores grandes fora da faixa de servida~o das concessiona´rias pode ajudar a prevenir danos ao sistema de energia e fornecer confiabilidade adicional aos clientes. Isso esta´ acontecendo na Flo´rida, onde o senado estadual aprovou um projeto de lei que permitiria que concessiona´rias como a Florida Power and Light acelerassem o subterra^neo para fornecer protec¸a~o adicional contra tempestades e aumentar a confiabilidade.

As ameac¸as contra a infraestrutura de energia esta~o aumentando com a intensidade das tempestades que assolam as comunidades, o que significa que a necessidade e o valor de proteger as linhas de energia so´ aumentara~o. Em um clima cada vez mais vola´til que inflige anualmente bilho~es de do´lares em danos, e´ importante que todas as partes tenham uma visa~o holi´stica e ampla dos benefi´cios do subterra^neo.

Segundo Juliano Fernandes dos Santos Silva, especialista reconhecido nacionalmente por atuar em grandes e inovadores projetos da engenharia ele´trica e que atuou como responsa´vel te´cnico pela rede de distribuic¸a~o subterra^nea de Sa~o Paulo, "Governo, reguladores, servic¸os pu´blicos e seus clientes precisam reavaliar o underground com uma lente ale´m de apenas olhar para os custos e benefi´cios imediatos e, em vez disso, devem pesar seus muitos benefi´cios em relac¸a~o ao custo de curto prazo, conforme tentamos prevenir que nossa infraestrutura de energia sofra danos catastro´ficos adicionais".

Sucesso do underground no mundo e os desafios no Brasil

Barcelona, Londres, Amsterda~, Paris e Washington sa~o citadas com freque^ncia por engenheiros e arquitetos como exemplos de cidades que enterraram praticamente toda a sua fiac¸a~o. Isso faz com que, ale´m de reduzir drasticamente as interrupc¸o~es no fornecimento de energia durante tempestades, confere visual urbani´stico mais agrada´vel a essas metro´poles.

Essas cidades na~o passam de miragem na realidade brasileira, onde so´ 1% da distribuic¸a~o de energia ele´trica e´ feita por redes subterra^neas. Os i´ndices variam: estima- se que, em Belo Horizonte, o percentual seja de 2%; em Sa~o Paulo, de 10%; no Rio de Janeiro, 11%. Os 400 quilo^metros de rede subterra^nea de Porto Alegre correspondem a 9,2% de todo o sistema da capital gau´cha.

Na visão do Engenheiro Juliano, a opc¸a~o por sistemas ae´reos no Brasil deveu-se a`s grandes dimenso~es do pai´s e tambe´m devido o cabeamento por meio de postes, fios e transformadores expostos custar mais barato. Nas u´ltimas de´cadas, a maior parte dos casos de migrac¸a~o para a rede subterra^nea esta´ relacionada a` tentativa de modernizac¸a~o de regio~es e tem relac¸a~o com o aumento abrupto da demanda por energia ele´trica. So´ que, ao fazer a mudanc¸a, segundo o engenheiro, optou-se pelo padra~o de cidades norte-americanas e canadenses, o chamado Network. Esse sistema em malha reticulada comec¸ou a ser implantados por volta dos anos 1960 no pai´s e teve pouca expansa~o devido aos altos custos.

“Ele tem confiabilidade excelente, como a rede de Nova York, por exemplo. Pore´m, o prec¸o e´ alto. Todo mundo entendeu que era muito caro e na~o caminhamos para outras alternativas. ”, explica Juliano.

Com uma lei de 2005, a cidade Sa~o Paulo obriga concessiona´rias, empresas estatais e operadoras de servic¸o a enterrarem o cabeamento de rede ele´trica, telefonia, TV e afins instalado no munici´pio. Desde a aprovac¸a~o da legislac¸a~o, entretanto, pouco foi feito. Projeto aprovado durante a gesta~o do prefeito Joa~o Doria previa que 2.109 postes fossem retirados ate´ o final de 2018. Mas o prazo na~o foi respeitado e a meta foi adiada para o final de 2020. Caso seja cumprida, a previsa~o e´ de que o percentual de fiac¸a~o subterra^nea de Sa~o Paulo atinja 17%. Conforme Juliano, mesmo na cidade de Sa~o Paulo ha´ apenas “soluc¸os” de rede subterra^nea:

– Fez-se o enterro em vias importantes, como as avenidas Nove de Julho e Rebouc¸as e a Rua Oscar Freire, com iniciativas privadas. Na~o temos, no Brasil, consiste^ncia para expandir essa rede. Nenhuma concessiona´ria tem planos de enterramento hoje.

Juliano defende que cabe a`s prefeituras atuarem na interlocuc¸a~o entre os setores envolvidos em projetos de migrac¸a~o de redes ae´reas para subterra^neas, como forma de reduzir o impacto na mobilidade e na busca por projetos que integrem servic¸os no mesmo projeto. Isso devido envolver diferentes empresas, como de telecomunicac¸o~es, televisa~o a cabo e concessiona´rias de energia ele´trica.

“A prefeitura tem que liderar e ser o agente integralizador, porque inclusive as reside^ncias precisam fazer adequac¸o~es em seus centros de medic¸o~es. A obra mais pesada e´ da concessiona´ria de energia, mas todo mundo tem de trabalhar junto. ”, sugere ele.

Juliano defende ainda que prejui´zos econo^micos acarretados pela falta de luz devem nortear a troca do modelo e na~o apenas o embelezamento das cidades:

– No Brasil, ficamos de 10 a 12 horas, ate´ 16 horas, sem energia durante o ano. Na Alemanha, que tem 80% de sua rede subterra^nea, esse tempo e´ de 23 minutos por ano. Imagine o impacto disso em uma escola ou em uma fa´brica. Ha´ questo~es de produtividade, de crescimento do pai´s e de seguranc¸a envolvidas – avalia ele.

A responsabilidade por normatizar, regular e fiscalizar questo~es relacionadas aos servic¸os de distribuic¸a~o de energia ele´trica e´ da Aneel. Conforme Resoluc¸a~o Normativa 414/2010, e´ de responsabilidade do interessado o custeio das obras de rede subterra^nea, ou conversa~o da rede ae´rea existente em rede subterra^nea, incluindo as adaptac¸o~es necessa´rias.

Underground ja´ e´ realidade ha´ de´cadas em va´rias importantes cidades do mundo. No Brasil, entretanto, essa realidade ainda tem muitos desafios a serem superados, conforme exemplos comparativos a seguir entre algumas cidades brasileiras e no exterior.

Sa~o Paulo, Brasil

Toda a energia da regia~o central da cidade e´ subterra^nea ha´ mais de 20 anos. A Enel Distribuic¸a~o Sa~o Paulo informa que realizou dois projetos de conversa~o: na Vila Oli´mpia, foram enterrados fios ele´tricos em 13 vias da regia~o, correspondentes a 4,2 quilo^metros de extensa~o de vias, e na a´rea do Mercado Municipal, com nove quilo^metros em 40 vias. Sa~o Paulo tem

41 mil quilo^metros de cabos suspensos de energia ele´trica. Um decreto obriga a cidade a enterrar a cada ano cerca de 250 quilo^metros de cabos. O projeto em ruas como a Oscar Freire foi iniciativa de empresa´rios.

Campinas, SP, Brasil

Em setembro de 2020, um projeto de lei protocolado na Ca^mara do munici´pio determina que toda fiac¸a~o ae´rea da cidade seja implantada de forma subterra^nea em 12 anos. O texto especifica que a substituic¸a~o deve ocorrer gradativamente a partir de seis meses da promulgac¸a~o da legislac¸a~o, na proporc¸a~o mi´nima de

5% a cada ano. A medida contempla novos loteamentos residenciais, comerciais e industriais. 

Rio de Janeiro, Brasil

A eliminac¸a~o da fiac¸a~o ae´rea esta´ prevista no Plano Diretor de Desenvolvimento Sustenta´vel do Rio, aprovado em 2011. A lei determinou que todas as empresas com fios expostos deveriam substituir as fiac¸o~es ate´ 2016. Na~o vingou. A Light contesta a compete^ncia do munici´pio de legislar sobre o assunto. Para a empresa, e´ responsabilidade da Unia~o decidir sobre a rede subterra^nea.

Londres, Reino Unido

A empresa responsa´vel pela infraestrutura ele´trica investiu mais de US$ 1 bilha~o nos u´ltimos anos para criar um sistema de linhas de transmissa~o em tu´neis mais profundos, substituindo a fiac¸a~o que ja´ ficava embaixo da camada de asfalto.

Buenos Aires, Argentina

Va´rias ruas da cidade ainda te^m redes ae´reas, mas o governo da capital argentina tem avanc¸ado na troca dos cabos ae´reos por fios subterra^neos. No centro da cidade, ja´ na~o existem fios ae´reos. A medida foi inclui´da em uma grande reforma na a´rea promovida pela prefeitura local na de´cada de 1950. Em outros bairros, ainda se

encontra rede ae´rea, mas esta´ proibida a instalac¸a~o de novas fiac¸o~es sobre o solo.

Paris, Franc¸a

Em Paris, a rede ele´trica subterra^nea comec¸ou a ser instalada em 1910. Conhecida como Cidade Luz, a capital francesa tem toda a sua fiac¸a~o no subsolo ha´ mais de 60 anos. A Franc¸a tem investido continuamente em redes subterra^neas.

  


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